"No fundo o que é um maluco? É qualquer coisa de diferente, um marginal, uma pessoa que não produz imediatamente. Há muitas formas de a sociedade lidar com estes marginais. Ou é engoli-los, tranformá-los em artistas, em profetas, em arautos de uma nova civilização, ou então vomitá-los em hospitais psiquiátricos"

António Lobo Antunes

09/06/2011

Vídeo denuncia tortura num hospital para doentes mentais - VISÃO

17:14 Quinta feira, 2 de Jun de 2011
Publicado em Visão 
As imagens, captadas por um repórter da BBC, com uma câmara oculta, num hospital com doentes mentais, está a chocar a comunidade internacional. VEJA O VÍDEO (Atenção: imagens eventualmente chocantes)



A filmagem mostra como, alegadamente, são tratados os pacientes internados no Winterbourne View, para estupefação e choque gerais: vêem-se funcionários a agredir fisicamente os doentes, a atirar-lhes água fria e até mesmo a arrastá-los para o banho. Tudo acompanhado de violência verbal.
Um repórter do programa "Panorama", da BBC, filmou durante cinco semanas estes abusos verbais e físicos contra doentes autistas ou com outras doenças mentais.
Um psicólogo clínico britânico, Andrew McDonnell, que teve acesso às imagens, comparou alguns tratamentos a tortura.
A BBC decidiu investigar o caso depois de ter recebido uma denúncia de um antigo enfermeiro da instituição.
Três homens de 42, 30 e 25 anos e uma mulher de 24 já foram detidos.

29/05/2011

Albufeira: Exposição «Percurso para a Integração» na biblioteca municipal

08:29 quarta-feira, 25 de Maio de 2011
publicado por Diário Online




Durante o mês de Junho, a biblioteca municipal Lídia Jorge, em Albufeira, vai acolher uma mostra de trabalhos de expressão artística da Associação de Saúde Mental do Algarve (ASMAL), intitulada "Percursos para a Integração".


Em comemoração do seu 20º aniversário, a associação traz a Albufeira uma mostra que reúne os trabalhos dos utentes dos fóruns socio-ocupacionais da instituição, incluindo uma exposição de fotografia sobre o tema "As nossas caras" e outra de tapeçaria e pintura denominada "Telas, Tintas e Fios".


A ASMAL desenvolve, há duas décadas, um trabalho no terreno em prol da saúde mental e da reabilitação e integração social de pessoas com doença mental. 


A mostra estará patente na biblioteca municipal Lídia Jorge, de 3 a 23 de Junho, podendo ser vista de terça a sexta, das 9:30 horas às 19:15, e segunda e sábado das 13:45 às 19:15. Este equipamento cultural encerra aos domingos e feriados.

Depressão e autismo: duas doenças com tratamento à vista

Inserido em 24-05-2011 13:33 Rádio Renascença


A convicção é do investigador Rui Costa, que lidera o programa de neurociências da Fundação Champalimaud.


O diagnóstico e o tratamento de doenças mentais como o autismo ou a depressão podem assistir a grandes progressos nos próximos anos. Quem o afirma é Rui Costa, investigador que lidera o programa de neurociências da Fundação Champalimaud.

“Eu acho que, nas doenças mentais, pode haver um ‘breakthrough’ e nos próximos cinco anos pode haver, no mundo inteiro, uma mudança de paradigma, de pensar e de tratar”, afirma à
Renascença.

O investigador português explica que o autismo ou doenças mentais como a depressão podem ser tratadas de forma completamente diferente se os investigadores conseguirem compreender alguns processos básicos, como “a pessoa está deprimida, não quer fazer, não decidir, porquê? Há muita incerteza no mundo, há muito stress, o que é que acontece?”.

“Todos os processos básicos que estamos a investigar têm a ver com o entendimento de como é que essas coisas se geram normalmente e o que é acontece quando não se conseguem fazer, desde o autismo em crianças, a deficiências de aprendizagem até depressão”, afirma o investigador, adiantando que as neurociências acreditam que tudo tem uma base física, incluindo as doenças mentais.

Um diagnóstico mais preciso, algo que ainda não existe para as doenças mentais, pode levar a um tratamento muito mais eficaz e é aí que os investigadores pretendem chegar: “Acreditamos que há uma base física, portanto, um diagnóstico muito preciso, que se saiba quais as moléculas, quase as áreas do cérebro, como tratar”.

Só a depressão afecta 20% da população portuguesa.

Rui Costa é o convidado da cientista Elvira Fortunato, que hoje assume o cargo de directora de Informação da Renascença, entre as 19h00 e a 20h00, no programa “
Director por uma Hora”.

23/05/2011



É hora de começar a mudar as coisas. A sociedade discriminatória e individualista em que vivemos nos dias de hoje está a precisar de ser "reciclada". Basta de inferiorizar e temer os doentes mentais.
Eles são pessoas e têm os mesmos direitos que qualquer cidadão! É hora de respeitar e ajudar os que mais necessitam

Portal Dedicado à Saúde Mental

iGOV Central
Data: 2011-05-23



O governo australiano vai investir, nos próximos cinco anos, cerca de 15,5 milhões de dólares na criação de um portal dedicado à saúde mental.

O portal tem como destinatários os cidadãos que sofrem de doenças mentais mas também os profissionais desta área da saúde.

No que toca aos doentes, o objectivo do portal é proporcionar aos mesmos uma nova forma de aceder a informação sobre este tipo específico de doenças, permitindo ao mesmo tempo que estes contactem online com os profissionais de saúde que os acompanham. Uma outra vertente do portal é possibilitar a quem vive nas zonas rurais o acesso aos cuidados de saúde mental através de consultas online.

Na área vocacionada para os profissionais de saúde será possível aceder a acções de formação, tanto para os médicos como para a restante comunidade hospitalar que trabalha na área da saúde mental.

15/05/2011

Think Different




"Here's to the crazy ones. The misfits. The rebels. The troublemakers. The round pegs in the square holes. The ones who see things differently. They're not fond of rules, and they have no respect for the status quo. You can quote them, disagree with them, glorify and vilify them. About the only thing you can't do is ignore them because they change things. They push the human race forward. And while some may see them as crazy, we see genius. Because the people who are crazy enough to think they can change the world, are the ones who do."

12/05/2011

Editorial sobre a Saúde Mental - DESTAK

A saúde mental mais perto de nós

10 | 05 | 2011   19.32H
Isabel Stilwell | editorial@destak.pt
Temos um terror da loucura. E o que nos mete medo, desconfio eu, não são os loucos propriamente ditos, os que como canta a Ala dos Namorados nos fazem duvidar de que o mundo gira ao contrário e os rios nascem no mar, nem tão pouco os que debitam discursos incompreensíveis à porta do café e juram ouvir vozes, mas o medo de que acordem a loucura que todos sentimos ter dentro de nós. É por isso, tenho a certeza, que instintivamente nos apressamos a escondê-los atrás das paredes de um hospital, lá longe, onde não nos possam contagiar, no lugar dos loucos, por oposição ao nosso, o daqueles que sabem o que fazem, que se controlam e comportam como ‘deve ser’.
Foi por isso que, durante séculos, os fechámos em manicómios, e o tabu impediu que tanta e tanta gente procurasse ajuda para as suas angústias, depressões, ansiedades e desequilíbrios que são, afinal, a prova de que estamos vivos, pensamos e sentimos, e nem sempre conseguimos sozinhos libertar-nos das teias que vamos tecendo, tantas vezes na nossa ânsia de conformidade. Hoje sabemos muito mais sobre a doença mental e há mais meios para tratar os seus distúrbios de uma forma mais humana, e sem tantos efeitos secundários, embora tantas vezes, por falta de dinheiro ou por omnipotência, se opte por fazer engolir comprimidos como se fossem panaceia para tudo.
A notícia de que em Portugal as Unidades Terapêuticas Comunitárias vieram para ficar, com a inauguração, ontem, do Espaço Terapêutico Comunitário e de Saúde Mental do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, em Vila Franca de Xira, trás com ela a esperança de que sejamos capazes de aceitar a doença mental, recusando rótulos, permitindo que as pessoas sejam tratadas e apoiadas sem terem de sair do seu ‘lugar’, evitando sempre que possível internamentos. Talvez, aos poucos, comecemos a aceitar melhor a nossa complexidade.

09/05/2011

Hospital Miguel Bombarda prestes a fechar portas - TSF

Hospital Miguel Bombarda prestes a fechar portas - TSF

Fundado em 1848, o primeiro hospital psiquiátrico do país, o Miguel Bombarda, em Lisboa, está prestes a fechar portas. Restam 27 doentes, alguns residentes no hospital há mais de 20 anos e que, nos próximos dias, vão ser transferidos para unidades residenciais de apoio.



Prestes a mudar de morada para onde vão afinal os doentes do Hospital Miguel Mombarda, em Lisboa. A resposta foi dada à TSF por Luís Galhanas, enfermeiro director do hospital.
«Não vão sair daqui para um mini-hospital, para uma unidade de cuidados continuados nem para um lar, vão sair para algum o mais aproximado possível de uma casa normal, com cozinha, casa-de-banho, sala de estar. Vão viver com uma equipa que estará lá durante 24 horas», revelou Luís Galhanas.
Nos próximos dias, grande parte, do Hospital Miguel Bombarda ficará em silêncio com a mudança dos últimos 27 doentes.
Nos terrenos do Miguel Bombarda será construído um condomínio com habitações, escritórios e lojas.

07/05/2011

Rede de cuidados continuados de saúde mental arranca hoje com projectos-piloto - Sociedade - PUBLICO.PT

Rede de cuidados continuados de saúde mental arranca hoje com projectos-piloto - Sociedade - PUBLICO.PT
5 de Maio de 2011


A rede de cuidados continuados integrados de saúde mental está a funcionar a partir de hoje, com a publicação em Diário da República da tabela de preços a praticar, único elemento legal que faltava para o projecto arrancar.

As unidades e equipas de cuidados continuados integrados de saúde mental, para pessoas com doença mental grave da qual resulte incapacidade psicossocial e situação de dependência, qualquer que seja a idade, já estavam previstas e definidas.

De acordo com o legalmente estipulado, estas unidades entrarão em funcionamento progressivamente, através de experiências piloto, em articulação com os serviços locais de saúde mental e com a rede nacional de cuidados continuados integrados.

Contudo, o diploma legal que as instituiu previa que “o modelo de financiamento dos serviços a prestar pelas unidades e equipas” seria estabelecido por portaria dos ministros de Estado e das Finanças, do Trabalho e da Solidariedade Social e da Saúde, o que hoje aconteceu.

Assim, a portaria hoje publicada determina que, no âmbito das experiências piloto, os preços para a prestação daqueles cuidados continuados são da responsabilidade do Ministério da Saúde.

O utente suporta a parte dos encargos decorrentes da prestação dos cuidados de apoio social, podendo ser apoiado com uma comparticipação pela Segurança Social, em função dos seus rendimentos.

Ainda no âmbito das experiências piloto, os encargos com rendas relativas a instalações onde funcionem unidades residenciais ou sócio-ocupacionais serão comparticipadas em 50 por cento, até um limite máximo de mil euros mensais.

Esta comparticipação é suportada em partes iguais pelo Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social e pelo Ministério da Saúde, desde que não tenha sido possível o estabelecimento de parcerias, públicas ou privadas, para a cedência de instalações.

No caso de as instalações terem tido financiamento público, não haverá comparticipação nas rendas.

04/05/2011

EUA mantiveram doentes mentais presos durante anos - Internacional - Sol

EUA mantiveram doentes mentais presos durante anos - Internacional - Sol


De acordo com documentos obtidos pelo Wikileaks e revelados pelo El País, cerca de 30 detidos em Guantánamo sofriam de doenças mentais e vários tentaram suicidar-se diversas vezes.
Os documentos que a organização de Julien Assange entregou ao jornal espanhol revelam que a relação entre os guardas e os prisioneiros eram marcadas pela violência e que os responsáveis pelos interrogatórios eram soldados obcecados por descobrir o paradeiro de Bin Laden.
Os documentos a que o El Pais teve acesso demonstram que 30 presos de Guantanamo sofriam de «doenças do foro psiquiátrico, transtornos de personalidade, depressões profundas», esquizofrenia e problemas de consumo de drogas. Apesar desses transtornos terem sido comprovadas por avaliação médica, os doentes permaneceram presos e impedidos de voltar aos países de origem durante anos.
Vários doentes mentais tentaram o suicídio enquanto se encontravam na prisão de alta segurança e três chegaram mesmo a consegui-lo.
O diário espanhol conclui que, mesmo em casos de doença extrema, a procura de informação foi sempre colocada acima da saúde dos indivíduos.

02/05/2011

Na Nigéria o remédio para a perturbação mental está na prisão perpétua

Publicado em 29 de Abril de 2009   
http://www.ionline.pt/conteudo/2791-na-nigeria-o-remedio-perturbacao-mental-esta-na-prisao-perpetua



Os quartos cheios, "são quentes como fornos". A falta de higiéne vai para além do imaginável. As pessoas são mantidas nas "jaulas" dias sem conta. Aqui, uma coisa é certa: "niguém vai melhorar".
Na Nigéria os doentes mentais tratam-se com prisão, por vezes, perpétua. Levados a tribunal pela família ou pela polícia, são condenados, na maioria das vezes, sem qualquer motivo. A organização Prisoners' Rehabilitation and Welfare Action (PRAWA) está a tentar libertar os “lunáticos civis” das prisões nigerianas. Até agora, desde 2007, já conseguiram libertar 54 doentes mentais da Prisão Enugu. No entanto, existem centenas de prisões semelhantes e sobrelotadas por todo o país. 

27/04/2011

Do hospital psiquiátrico para a comunidade

Ana Cardoso - 26-04-2011 12:19
por Ana Cardoso
(Psicopedagoga)
 





A doença mental constituiu desde sempre um desafio à capacidade das sociedades integrarem e cuidarem dos seus portadores.


Atualmente, estamos a passar pelo processo de desinstitucionalização psiquiátrica que prevê a passagem dos doentes internados em hospitais psiquiátrico para habitações comunitárias.

Associado ao aparecimento desta política esteve, entre outros fatores, o fato destes doentes estarem afastados da comunidade, aspecto que promove o estigma associado às pessoas que sofrem de uma doença mental. Coube então aos sistemas de saúde mental a responsabilidade de criarem alternativas habitacionais para a transição dos utentes dos hospitais para a vida em comunidade.

Em todo o caso, não é possível desenvolver a reabilitação e a desinstitucionalização se não existirem na comunidade equipas que apoiem os doentes e as famílias. É também fundamental desenvolver novos serviços mais próximos das pessoas se a maior parte dos recursos continuarem concentrados no tratamento intra-hospitalar.

A abordagem da Saúde Mental Comunitária dá cada vez maior ênfase à manutenção dos doentes na respectiva comunidade residencial, com promoção da sua autonomia e integração social, em vez de os confinar, mais ou menos de forma permanente, em instituições psiquiátricas.

O desenvolvimento recente da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados procura permitir o desenvolvimento de respostas específicas de cuidados continuados integrados no âmbito da saúde mental.

Estas respostas, da responsabilidade conjunta dos Ministérios do Trabalho e da Solidariedade Social e da Saúde, terão como objetivo geral a prestação de cuidados continuados integrados a pessoas com perturbações mentais graves e/ou incapacidade psicossocial que se encontrem em situação de dependência.

As respostas específicas dos cuidados continuados integrados no âmbito da saúde mental constituem um segmento especializado da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, criada pelo decreto-lei nº 101/2006, de 6 de Junho, regendo-se pelos princípios aí definidos, com as devidas adaptações a definir no diploma próprio previsto para a área da saúde mental.

De acordo com este diploma, a prestação de cuidados continuados integrados de saúde mental é assegurada por: Unidades de convalescença; Residências de treino de autonomia, residências de apoio máximo, residências de apoio moderado e residências autónomas; Unidades Sócio-Ocupacionais; Equipas de apoio domiciliário.

Esta transição requer de uma preparação rigorosa. É importante que se avaliem as necessidades individuais de cada pessoa para que, na medida do possível, a resposta habitacional oferecida seja favorável à sua plena integração. No entanto, e para que estes e outros objetivos se cumpram é necessário que sejam criadas oportunidades que facilitem a reabilitação social destas pessoas. Este pode, sem dúvida, representar um passo importante no combate ao estigma. Vale a pena reforçar que, nesta luta, todos nós temos também um papel importante a desempenhar.





19/04/2011

Entrevista dada à Rádio Aurora - A Outra Voz


Aqui está a nossa entrevista na Rádio Aurora - A Outra Voz realizada no dia 7 de Janeiro de 2011 no Hospital Júlio de Matos. A banda sonora é dos DM.
Esperamos que gostem!

18/04/2011

Os Dias do Fim da Casa da Loucura -Correio da Manhã

http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/outros/domingo/os-dias-do-fim-da-casa-da-loucura
No último baile de Carnaval espalharam-se balões na sala grande, ali entre o refeitório e a sala de jogos, para abafar o eco do vazio no Miguel Bombarda, o primeiro hospital psiquiátrico do País, onde, em tempos que já lá vão, o bailarino Valentim de Barros, internado durante 48 anos por ser homossexual e travesti, pedia a quem passava para dançar e onde o poeta Ângelo de Lima debitava versos que depois escrevia no papel.
Nos mesmos corredores onde desde 1848 muitos deambularam entre a lucidez e a loucura, perfilam-se hoje quartos vazios, camas vazias, portas fechadas que já não precisam de chave. Perfilam-se também, mas por pouco tempo, corpos curvados que dormem em bancos a sesta junto a janelas soalheiras, gente grande que parece pequena, com medo do futuro, a fumar cigarros em baforadas nervosas. Estão tristes, mas na expectativa, pelo fim do ‘Miguel’, companhia e casa que há muito tempo – tanto tempo que não sabem quanto – é a única que conhecem.

HISTÓRIA CENTENÁRIA

A dias do fim do hospital que começou por se chamar Hospital de Alienados de Rilhafoles – criado há 163 anos para abrigar doentes mentais que antes se encavalitavam numa enfermaria do São José – e onde chegaram a viver centenas (em 1910 eram um milhar) moram agora 27, com uma média de idades de 68 anos, uma média de internamento de 40 e "a maioria afectada por psicoses do tipo esquizofrénico", como explica Ricardo França Jardim, director clínico do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa.
São tão poucos que os aniversários de todos cabem no mesmo cartaz e na reunião semanal não falta espaço no sofá para quem quiser participar. São tão poucos que quem visse do lado de fora da janela poderia pensar tratar-se de uma família de idosos que se juntou em roda para desfiar memórias. Em breve, no final do mês de Abril, serão encaminhados para duas residências (que mais tarde se vão chamar unidades residenciais de apoio) e para o Hospital Júlio de Matos, onde terão de reaprender rotinas e estabelecer elos de confiança com novos técnicos.
Em breve, os carrinhos de plástico e o rádio a pilhas de Ezequiel vão ser embalados a caminho de uma residência na zona do Restelo e quer o "compact disc" onde Zé Pedro ouve heavy metal, quer a boneca de pano que enfeita a cama de Esperança vão habitar o Hospital Júlio de Matos. "Já me disseram que vou para a casa nova e a menina Idália [enfermeira-chefe] diz-me que é melhor para mim, mas às vezes fico triste quando penso nisso porque esta é a casa que conheço" – conta Carminda, 75 anos e um diagnóstico de perturbação de humor que a fechou no hospital há 36.
"Estou aqui porque tenho a doença do Miguel Bombarda, é por isso que aqui estou. Acho que ganhei a doença porque desde que o meu marido morreu nunca mais tive alegrias. Faço chichi na cama e sou uma porcalhona, por isso é que nunca tive uma casa nova. A minha filha disse: ‘não te quero cá em casa’ então eu fartei--me de chorar e pedi ao padre para me arranjar um buraquinho na cave. Arranjou-me um rés-do-chão mas tinham medo que pegasse fogo à casa, então estou aqui, mas já não sei há quantos anos porque já são muitos".
Na parede colou fotografias dos três netos e à cabeceira guarda a imagem feliz de uma ida à praia da Areia Branca numa colónia de férias do hospital. Já perdeu há muito a companheira de quarto, por isso na porta a única fotografia é a sua – estratégia usada para os doentes não se enganarem nos quartos.

LOBO ANTUNES

Poucos metros quadrados dos 43 hectares do Hospital Miguel Bombarda estão hoje ocupados. Os "últimos 27" – como são chamados – concentram-se na Residência Psiquiátrica número 4, um corredor estreito e comprido com portas de um lado e outro. O imóvel, a perder de vista e muito degradado, foi vendido à sociedade Estamo, detida pela empresa pública Parpública, por 25 milhões de euros, em 2009, e onde outrora se abrigavam os doentes vão estar apartamentos e zonas comerciais.
No Bombarda, em 163 anos de história, muito mudou, fruto de evoluções no tratamento e concepção da saúde mental ao longo dos séculos. Ainda assim, heranças do passado, como as camisas-de-forças, célebres como instrumento de terapia entre 1930 e 1950, e os ‘banhos terapêuticos’ no balneário D. Maria II, construído em 1854 e há muito desactivado, fazem parte do espólio do hospital.
O mesmo onde António Lobo Antunes exerceu psiquiatria durante oito anos, entre a década de 70 e a de 80, antes de se dedicar à escrita a tempo inteiro. Sobre esse período disse numa crónica: "Lembro-me de um rapaz que se regou de petróleo e se chegou um fósforo. Do psicanalista que dava electrochoques em série (...), tenho vergonha de ter trabalhado no hospital, de ter sido médico ali. De me ter calado tantas vezes. Precisava de ganhar a vidinha não é?". Os tempos eram outros – e tão longínquos que só Alice Catarino, do secretariado – de entre todos os que trabalham actualmente no Miguel Bombarda – pode contar a história.
"Sou a única do tempo do dr. Lobo Antunes a trabalhar aqui, há 38 anos que o meu caminho é este, é quase como um vício. Estou muito triste por sair, por ter de ir para o Júlio de Matos, esta também era a minha casa". Alice conheceu o escritor "quando era novo, um rapaz bem bonito e um médico charmoso – os doentes gostavam muito dele porque o dr. Lobo Antunes alinhava nas doideiras deles. Eles diziam: ‘não é nada disso’ e ele dizia: ‘pois não, não é nada disso, tens razão’, e era assim que os conquistava".
Naquele tempo, os corredores tinham mais gente do que vazio e saber o nome dos pacientes de cor era tarefa à altura das memórias de elefante. Naquele tempo os doentes tinham farda. "Pijama igual, t-shirt igual, roupa igual, barba igual – não tinham identidade própria, eram indiferenciados" – contextualiza Luís Galhanas, enfermeiro-director do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa (que engloba o Miguel Bombarda e o Júlio de Matos). Também naquele tempo os médicos não tinham um gabinete específico – mas, continua Alice, "o dr. Lobo Antunes tinha um preferido, onde estava quase sempre, era onde escrevia os livros, com a janela aberta".
Desse tempo, o espaço, hoje vazio de gente e bens, diferente do que outrora era, mantém as grades nas janelas (era o único que tinha grades) e a vista para o Pavilhão de Segurança, habitado pelos inimputáveis (os mais perigosos, sem responsabilidade pelas acções). O edifício panóptico (circular, com uma torre de vigia no meio, um pátio no interior e celas a toda a volta), considerado de interesse público no final do ano passado, foi construído em 1892 e esteve activo até 2000. Os 32 doentes de psiquiatria forense foram os últimos (antes dos 27) a sair, há um mês e meio. Já estão instalados no Júlio de Matos.

UMA VIDA INTEIRA

No ano em que nasceram dois célebres da política internacional, Angela Merkel e Hugo Chávez, vivia Portugal em ditadura e João entrava pela primeira vez no Miguel Bombarda – espaço de onde nunca mais saiu. É o habitante mais antigo do hospital e é ali que passa os dias, numa cadência sempre igual de pequeno-almoço, almoço, lanche, jantar, ceia, a que há muito se habituou.
João acha que tem 50 anos e que está ali há dez. Na realidade tem 80 e aquela é a sua casa há 57. Quase seis décadas, que mudaram o País e o Mundo. João não conheceu a palavra democracia. Nem a palavra liberdade. Quando chegou ali, os métodos eram outros, as pessoas também. Mas ele já não se lembra, tem uma memória difusa do passado. Em frente ao sofá onde cabeceia sonolento, catorze doentes reúnem com a educadora Clara Cintra e três enfermeiras. À pergunta sobre qual a próxima época festiva, Zé Pedro, 42 anos e 16 em instituições psiquiátricas, responde convicto: "É o 25 de Abril".
A resposta esperada era Páscoa mas o doente não se atrapalha. Zé Pedro é o mais novo do Bombarda. A alusão ao passado que o conduziu ao internamento impressiona pela lucidez. "Não moro em casa porque tentei suicidar-me na linha de comboio, estava deprimido, sem auto-estima, achava que ninguém gostava de mim". Um erro de cálculo na tentativa levou-o para a linha errada e para uma nova oportunidade de viver. Lembra-se desse dia "todos os dias" porque a falta das duas pernas foi dele consequência, mas também todos os dias agradece "a sorte" que teve.
A mãe é visita assídua ao ‘Miguel’ – como chama à casa que o acolheu – e é ao falar dela que se emociona. "É muito sofrida, primeiro teve um desgosto quando o meu pai a deixou, depois teve um desgosto comigo. Ela está muito insegura em relação ao meu futuro, agora que o ‘Miguel’ vai fechar, tem medo que não seja igual". Para as famílias também é complicado. "Temos um doente a quem é a mãe que diz que não pode ir para uma unidade de saúde, que lhe podem fazer mal, violá-lo. E por isso quer que ele vá para o Júlio de Matos", conta o enfermeiro-director. Joaquim (nome fictício) confirma a instabilidade.
"Vão-me matar, lá matam pessoas" – murmura, de cigarro na boca, antes de se sentar num banco exterior junto a dois vizinhos de quarto e corredor. Mas a mudança também entristece Zé Pedro. "Foi aqui que me curei dos meus problemas, foi aqui que encontrei outra família. Se calhar choro quando sair", confessa – enquanto espera "sinceramente" que no Júlio de Matos também o deixem ver os ‘Morangos com Açúcar’, série de eleição, e os jogos do Benfica.

MUDAR CUSTA A TODOS

É precisamente em dias de futebol que os doentes se deitam mais tarde – depois das 22h00. "Tínhamos aqui um senhor que era tão ferrenho que vestia um equipamento do Benfica para ver a bola", recorda Idália Cardoso. Já Clara Cintra, educadora – que começou a trabalhar no Bombarda há 25 anos como educadora dos filhos dos funcionários na altura em que havia creche – recorda um doente "que, uma vez, na praia, na colónia de férias, pediu-nos a todos para nos calarmos porque estávamos, segundo ele, rodeados de agentes secretos, que eram nada mais nada menos do que um grupo de crianças a brincar na areia". Esse doente, tal como João, conheceu Clara quando esta tinha 12 anos.
"Os meus pais eram funcionários aqui e sempre vim ao Bombarda pela mão deles. Muitos dos doentes viram-me crescer ao longo dos anos. Vou ter muitas saudades e deixá-los vai ser um sentimento muito forte, muito intenso. Estamos tão ligados a eles como eles a nós. Ao mesmo tempo que os preparamos para mudar – o assunto tem sido tema de conversa – também nos preparamos psicologicamente a nós".
O pai de Clara, enfermeiro, também trabalhou com Lobo Antunes durante os oito anos do escritor no hospital. "Eram muito amigos. Trabalhavam juntos numa altura em que homens e mulheres estavam em enfermarias separadas" e raramente se cruzavam. Nesse tempo, era impossível a Gamito apertar a mão de Carminda durante a reunião semanal e ouvir de volta um piropo da idosa. Gamito tem 62 anos e o seu corpo alto e magro ziguezagueia pelo corredor à procura de atenção. O olhar pára na enfermeira Ana Paula, há 19 anos a trabalhar em psiquiatria. Ela pega-lhe na mão, ele retém-na. A cumplicidade é evidente aos olhares estranhos, quase familiar.
"Não gosto disto porque queria estar na minha casa. Foi a minha mãe que me trouxe para aqui", há muitos anos, muitos. Manuel aproxima-se. Traz um capacete – que faz questão de tirar para as fotos – para não se magoar na cabeça. Junta-se Ezequiel, para mostrar a pulseira com a inscrição do seu nome e data de aniversário e atrás dele vem Fernando, diagnósticos vários dentro da esquizofrenia.
Perguntamos-lhe como chegou ao hospital. "Tive um acidente de viação e depois disso o médico fez-me uns exames à cabeça. Disse que eu tinha debilidade mental, psicopatia, epilepsia e delírios de grandeza. Concordo com tudo menos com os delírios de grandeza" – explica, olhos nos olhos com quem pergunta. Mas são precisamente estes os mais visíveis a quem vem de fora.
No mundo da fantasia que lhe preenche o dia-a-dia – e que nenhum muro é capaz de derrubar – Fernando, 61 anos, acredita ser familiar "das pessoas mais influentes do Mundo. A minha cunhada é do PSD, os meus primos são deputados do PSOE e um deles até foi primeiro-ministro. Se eles me apanham em Espanha não me deixam sair". Tanto que o fim do Miguel Bombarda – onde desfila há décadas as suas histórias ficcionadas que mistura com partes da realidade que absorve no telejornal – parece-lhe a oportunidade ideal para correr atrás do sonho delirante. "Não vou ter saudades de ninguém, as saudades são más. Os meus primos querem que eu vá para Espanha e eu vou".
As técnicas sabem-lhe as histórias de cor e volta e meia perguntam: ‘Oh Fernando, não vais ter mesmo saudades da gente?’ O idoso insiste que não, não terá, mas que se os primos deixarem, elas também podem ir com ele, para Espanha ou para qualquer outro sítio. Às vezes, o discurso é outro: "Vou para onde me destinarem, se for o Restelo é para lá que vou".

ANTIGA CASA DE FAMÍLIA

Para já, será mesmo para lá que vai, para uma antiga casa de família devoluta que está a ser preparada – com o apoio da AEIPS, uma IPSS que se responsabilizou por 24 dos 27 doentes do Hospital Miguel Bombarda, um projecto-piloto daquilo "que no futuro serão unidades residenciais com vários graus de apoio (desde o máximo às que fomentam a autonomia".
A "medida quer evitar que os doentes mentais passem vidas inteiras nos hospitais psiquiátricos", como explica o psiquiatra Álvaro Carvalho, coordenador nacional para a Saúde Mental. No corredor, Fernando vai e volta. "O governador Cavaco Silva tem de se pôr a pau porque a dívida do País é muito grande. E se eu ficar em Portugal vou acabar a pagá-la sozinho". Há alguma lucidez na loucura de quem o diz.

O FUTURO TEM APARTAMENTOS E COMÉRCIO

A Estamo, a sociedade que comprou o imóvel, encomendou ao arquitecto Belém de Lima um estudo prévio, para concretizar no futuro no espaço do que ainda é hoje o Hospital Miguel Bombarda. "Quer o balneário quer o Pavilhão de Segurança são conservados no projecto, sendo que o pavilhão vai ser valorizado através de um espelho de água e os balneários vamos juntar a uma parte do antigo convento [anterior ao hospital, do século XVIII] que tem a capela. Tudo o resto vai desaparecer".
No novo projecto juntam-se traços do século XVIII, XIX, XX e XXI – "terá um toque de contemporaneidade, onde o destaque vai para os 193 apartamentos – em edifícios baixos e longitudinais de quatro pisos, e em cada um deles está pensado haver uma torre muito esguia, que vai servir para reforçar a identidade desta que é uma colina da cidade".
Estas torres, "de volume elegante", terão apenas um apartamento por piso. Haverá uma zona comercial e o espaço residencial terá cerca de 60% de áreas verdes – "a ecologia é componente do projecto".

30/03/2011

Estigma da Saúde Mental Ainda Existe

http://www.jornaldamadeira.pt/not2008.php?Seccao=14&id=179289&sdata=2011-03-28

Jornal Madeira, Março de 2011


«Mudam-se os tempos», mas nem sempre se muda a «vontade». E o que parecia ser a atitude mais normal, face ao actual progresso médico-científico, não corresponde a maior parte das vezes à realidade. Ainda se vive com «medos, vergonha, discriminação, estigmas», em particular no que respeita à «doença mental». Situações de que a sociedade e as famílias, em ambientes urbanos, ainda não conseguiram libertar-se de todo.
«Infelizmente, verifica-se isso pela dificuldade das pessoas em irem ao médico psiquiatra, medo de ser apelidado louco, um preconceito secular, mas que, hoje, não é admissível», considera o conceituado psiquiatra português Adriano Vaz Serra.
Orador convidado nas recentes Jornadas Hospitaleiras de Saúde Mental, no Funchal, o Professor jubilado da Universidade de Coimbra disse ao JM que falta uma «mensagem de humanismo», mais «compreensão e respeito pelos doentes mentais»; ao mesmo tempo que é preciso «promover a sua recuperação e inserção social», para assim se acabar com a «estigmatização que os rodeia».
Os níveis de estigma são vários, a começar pelos próprios pacientes, as familías, até à aceitação social. «A nossa obrigação é identificá-lo, reduzir o seu impacto e aceitar este tipo de pessoas», explica o Prof. Vaz Serra.
«Aceitar», neste caso, «significa fazer o tratamento adequado da doença, fazer também com que a família a aceite, porque nem todas as famílias gostam de aceitar um seu familiar que se tornou doente mental; e, depois, se o doente não tem capacidade de se manter na comunidade em termos de sobrevivência, é muito útil que haja alguma instituição que o possa aproveitar nas aptidões que tem», visando a sua «inserção em qualquer actividade produtiva que lhe possa dar independência, autonomia pessoal», propõe.

Meios de diagnóstico e tratamento cada vez mais eficazes

Para o especialista em psiquiatria, não há razões no nosso tempo para sustentar a «estigmatização», ou a «intolerância», em relação à doença mental. «Primeiro, porque há muito melhor informação do que é um quadro clínico psiquiátrico; segundo, há uma identificação muito mais precoce a respeito destas identidades; e em terceiro lugar, há muito mais capacidade de intervenção em termos de psico-farmacologia, de psico-terapêutica, que nos coloca muito para além do que aquilo que se verificava há 50 anos», lembra o Professor Adriano Vaz Serra. 
Nestas circunstâncias, «a justificação de estigma torna-se cada vez menor e não há, de facto, necessidade de manter essa justificação», acrescenta.
Por outro lado, nos dias de hoje, verifica-se que o chamado «doente psicótico, isto é, aquele que devido à sua doença perde a consciência crítica da realidade», tem ao seu dispor um «tratamento eficaz», pelo que «é capaz de manter, por exemplo, a sua actividade profissional».
«Conheço um professor do ensino secundário nessa situação que, para além do trabalho, também mantém o seu casamento de forma harmoniosa. Isso significa que são pessoas como outras quaisquer e que são capazes de cumprir com as suas obrigações, desde que sejam devidamente tratadas, compreendidas e aceites pela sociedade em geral», relata Vaz Serra.

A importância de se falar em saúde mental

Adriano Vaz Serra, psiquiatra e Professor jubilado de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, recorda dados oficiais da Organização Mundial de Saúde que referem que «as perturbações mentais correspondem a 8,1 por cento da carga mundial de morbilidade». Uma percentagem «maior do que aquela que se encontra em todos os tipos de cancro» e que «aumenta para um número substancialmente maior, se forem consideradas as perturbações do comportamento associadas ao abuso de substâncias, à violência e ao suicídio».
Por outro lado, não é só o problema da incapacidade que “rotula” as doenças mentais. Na actualidade, «também o estigma continua a ser um atributo negativo nas as relações sociais». 
«Estigma» que, sublinha o especialista, dá origem à «vergonha, acusação, falta de vontade, segregação, isolamento, exclusão, criação de estereótipos e discriminação».
«O estigma da saúde mental ainda está presente na sociedade actual», refere o Professor. Parafraseando o poeta (Luís de Camões), com a «mudança dos tempos» é urgente a «mudança de mentalidade», neste caso, em relação à doença mental.

Breve currículo

Adriano Vaz Serra, professor Catedrático, jubilado, da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra .
Reputado psiquiatra a nível nacional e internacional, é autor de vários trabalhos científicos publicados em revistas da especialidade. 
Escreveu os livros “O stress na vida de todos os dias” e “O Distúrbio de Stress Pós-Traumático”.
O “stress»” é, aliás, uma das áreas preferidas da sua investigação; tendo inclusivé sido convidado pela Organização Mundial de
Saúde, como “Consultor Temporário” nesta matéria.
Neste mês de Março, esteve no Funchal, como orador convidado das Jornadas sobre sáude mental promovidas pela Casa de Saúde Câmara Pestana (Irmãs Hospitaleiras).

Infraestruturas intermédias de apoio

No campo do tratamento em geral, e numa primeira medida auxiliar, o “doente” vai «a uma consulta externa para que seja tratado e medicado. Felizmente, hoje em dia, pela capacidade que se tem da medicação, na grande maioria dos casos, a pessoa pode tratra-se em regime ambulatório».
Mas, em relação aos casos mais graves, por exemplo, «o transtorno psicótico», em que a pessoa «não se aceita como estando doente, não compreende a necessidade de tomar medicação, e torna-se agressiva, etc., nessa altura justifica-se o internamento hospitalar». Mas, «depois do internamento é preciso fazer com que o doente volte à comunidade». E «aqui é que as coisas se complicam, pois, nem todas as famílias gostam de aceitar o seu doente mental; então é necessário criar estruturas intermediárias, onde o doente possa ficar alojado, protegido», defende o Professor Vaz Serra.

Integração social é medida urgente para curar doença

Para além de todas as possibilidades existentes para a sua recuperação, há uma medida imprescindível para o doente mental: «a sua integração social», aponta Vaz Serra.
Há necessidade de se «arranjar um emprego onde a pessoa recuperada se possa inserir e ganhar algum dinheiro, porque quem não é independente torna-se dependente e o seu comportamento será influenciado pela dependência que tem; o ideal seria que se torne autónomo», afirma o Professor.
No entanto, «ainda há muito a fazer neste campo», reconhece. «Se não se providenciar e permitir ao doente mental a sua autonomia, muito pouco está feito», lamenta o Catedrático jubilado de Psiquiatria da Universidade de Coimbra, em declarações ao JM.

Família constitui melhor defesa contra inimigos

«Se a família for unida, pode-se ter uma boa defesa contra os inimigos internos e externos», entende o Professor Vaz Serra.
«É importante essa coesão e que a abordagem familiar seja tentada, mas falta muito para se caminhar nesse sentido», diz.
«Os distúrbios da vida familiar, as perdas, as rupturas de relacionamentos, o stress e o mau viver contribuem fortemente para este estado de coisas. As pessoas desenvolvem um estilo de vida antinatural, ou patológico, e as consequências são as piores». 
«A família e os amigos» são as «melhores defesas» no relacionamento social do “doente mental”, garante o psiquiatra.

Children see. Children do



Os nossos exemplos são muitas vezes seguidos pelos mais próximos. As nossas acções definem quem somos e, inconscientemente, podemos estar a tornar este mundo num local recheado de intolerância, violência e egoísmo. Temos de ser capazes de viver sem perturbar e atropelar a vida dos outros. Chega de discriminações e confusões, somos todos habitantes do mesmo planeta e temos de aprender a coabitar em sociedade. As nossas atitudes devem ser repensadas e reflectidas por forma a tornar a Terra um local mais feliz!

24/03/2011

Reportagem «Um dia de cada vez» aborda a questão das doenças do foro mental


Hoje às 09:52
Portugal é dos países europeus o que apresenta maior taxa de doenças do foro mental, 23 por cento da população já terá tido perturbações psiquiátricas. Esta quinta-feira, a grande reportagem da TSF, «Um dia de cada vez», dá a conhecer o trabalho da ASMAL, uma associação que aposta na integração e reabilitação profissional de pessoas que sofrem de uma doença mental.
A reportagem da jornalista Maria Augusta Casaca, «Um dia de cada vez», passa esta quinta-feira 24 de Março 2011 na emissão da TSF, depois do noticiário das 19:00.

20/03/2011

Stigma of Mental Illness - "No Kidding, Me 2!"

Ter um mau emprego pode deprimir tanto como estar desempregado

http://www.publico.pt/Sociedade/ter-um-mau-emprego-pode-deprimir-tanto-como-estar-desempregado_1485369?all=1
17.03.2011 - 15:21 Por Mara Gonçalves


Ter um trabalho mal pago, demasiado stressante ou sem certezas de futuro pode ser tão mau, ou pior, que permanecer sem emprego. Esta é a conclusão de um novo estudo realizado na Austrália.
O emprego está associado a uma melhor saúde mental, ao contrário do desemprego, que pode provocar depressão ou ansiedade. Mas existe uma grande variedade de cargos e um mau emprego, em termos psicossociais, seria aquele com salários injustos, de grande exigência e complexidade e com pouco controlo ou segurança.

Os resultados do estudo publicada na revista “Occupational and Environmental Medicine” mostram que, em termos gerais, os desempregados têm pior saúde mental que aqueles com trabalho. No entanto, quando comparados os primeiros com os indivíduos com um mau emprego, o bem-estar mental destes era pior do que a dos desempregados. Ou seja, as vantagens de ter trabalho desapareciam, em termos de bem-estar mental, para os indivíduos na segunda situação.

Por outro lado, a pesquisa concluiu que a condição psicológica dos respondentes desempregados melhorava quando conseguiam uma colocação. Mas tornava-se ainda pior se a qualidade do novo trabalho fosse baixa.

Mudar de uma situação de desemprego para um mau trabalho pode assim ser pior para a saúde mental do indivíduo, ou mesmo agudizar problemas psicológicos já existentes. “Descobrimos que os trabalhos com piores condições psicossociais não são melhores, e podem mesmo ter piores efeitos para a saúde mental, que o desemprego”, explicam os autores do estudo.

Desta forma, tentar conseguir um emprego a qualquer custo pode não ser a melhor opção. “As políticas de emprego são baseadas na noção de que qualquer emprego é melhor que não ter nenhum”, relembram. Mas “a qualidade psicossocial do trabalho é um factor crucial que deve ser considerado”.
O sistema de apoio social tem um papel importante
É necessário ter em conta o papel da segurança social nos resultados apresentados pelo estudo, salvaguarda José Neves, investigador na área da Psicologia Social das Organizações. “A Austrália é conhecida por ser um país generoso no que respeita ao apoio social em situações de desemprego”, refere o investigador.

Ao existir um maior apoio ao desempregado, este pode considerar a sua situação menos depressiva ou causar-lhe menos ansiedade. Desta forma, o indivíduo sem trabalho teria uma melhor saúde mental que aquele num cargo demasiado stressante ou mal pago, como conclui o estudo.

Mas num país com uma segurança social menos favorável aos trabalhadores, as pessoas colocadas num mau emprego poderiam ter uma saúde mental ainda pior que nos outros países, mas mesmo assim ser superior à dos indivíduos sem trabalho.

“Os benefícios têm que ser sempre relativizados em relação às necessidades [das pessoas], nomeadamente as financeiras”, explica o professor do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE).

Em Portugal, “temos vindo a ter um controlo mais apertado do apoio social ao desemprego, em que as pessoas são empurradas para empregos que são pouco do agrado das mesmas. Mas acabam por aceitar, fruto da falta de apoios sociais”, explica o investigador.

Contudo José Neves alerta para um outro pormenor: um diminuto bem-estar mental também pode influenciar a forma como o trabalho é executado, e não apenas o contrário. E considera que uma reduzida qualidade do mesmo traz custos do ponto de vista económico e social. “Por isso, deste ponto de vista, esta questão poderia ser considerada nas políticas públicas de emprego”, remata.
Estudo avaliou sintomas positivos e negativos da saúde mental
O estudo realizado pela Universidade Nacional da Austrália, em Melbourne, foi feito a partir dos resultados de sete conjuntos de dados provenientes da pesquisa HILDA (the Household, Income and Labour Dynamics in Australia). A investigação recolhe anualmente informação laboral e económica de uma amostra composta por cerca de 7000 cidadãos do país.

Os autores mediram a saúde mental dos participantes mediante um teste chamado Mental Health Inventory (MHI), que considera diversos sintomas associados à depressão e à ansiedade, como o nervosismo, e aspectos positivos da saúde mental, como a tranquilidade ou a felicidade.No que respeita à qualidade do trabalho, avaliaram factores como o nível de exigência e complexidade, o controlo sobre o próprio trabalho, a segurança laboral e a percepção de um salário justo.