A doença mental é vista como algo negativo na nossa sociedade, o que torna ainda mais difícil lidar e conviver com esta realidade. A família tem um papel fulcral no sucesso do tratamento e na reintegração do doente. Contudo, um número muito elevado de famílias não está preparado para enfrentar este problema. É algo muito desgastante, tanto física como emocionalmente, e pode torná-los vulneráveis às opiniões e julgamentos dos outros.
O aparecimento de sinais de alerta (mudanças de comportamento, atitudes pouco próprias...) são muitas vezes ignorados pelos familiares que tentam convencer-se que tudo não passa de uma fase menos boa. A família inicialmente tende a encobrir a doença, talvez por não saber como proceder e por acreditar ser o melhor para o doente. É uma situação muito complicada para os familiares pois tudo é uma novidade que cai de surpresa às suas portas e à qual eles não sabem resolver.
É nesta altura, indispensável que os familiares procurem fontes de informação sobre o assunto, recorram a livros, revistas e Internet e para além disso que se informem junto de especialistas e médicos psiquiátricos. Assim passarão a dispor de meios e métodos para lidar com o doente e ajudá-lo no seu tratamento.
Cuidar de um doente mental não é uma tarefa leviana, pelo contrário é muito exigente e desconcertante. É necessário ter muita paciência e calma. Os familiares dedicam horas sem fim a cuidar do doente, com evidentes reflexos na sua vida pessoal.
O internamento é por vezes positivo para a família pois passa a dispor de mais tempo para outras actividades. Torna-se mesmo vital abandonar por horas as preocupações para disfrutar um pouco da vida e deste modo evitar que a sua própria saúde mental saia lesada. Para tudo mais, o doente passa a receber um tratamento mais qualificado e abrangente com resultados mais eficazes. O doente é observado todo o dia por enfermeiras, médicos e psicólogos.
Nesta fase é importante que o doente se distancie o mais possível dos problemas exteriores e se concentre no seu tratamento. A família deve continuar a visitar frequentemente o doente e deve encorajá-lo e motivá-lo pois qualquer agente motivador poderá representar um passo para a sua recuperação.
A família deve ainda estabelecer um contacto frequente com os médicos que seguem o doente por forma a estar a par das notícias e dos avanços do tratamento e ainda para definir as melhores maneiras de agir com o doente, podendo ainda expor os seus problemas e angústias com toda esta situação. O diálogo médico-família é muito benéfico.
À medida que o tratamento progride o doente passa a dispor de uma maior autonomia e liberdade com o intuito de se familiarizar com o mundo exterior. A reintegração é um dos passos mais difíceis de concretizar, daí ser fulcral o apoio familiar.
O regresso a casa é um momento marcante para o doente pois é como um sinal verde para regressar à “normalidade” e ser, por fim, feliz.
Ao longo de todo este custoso processo é normal a destabilização dos familiares que têm ainda de lutar contra o estigma associado às doenças mentais. Estes são largamente afectados pela não aceitação desta realidade e pelas atitudes discriminatórias (mesmo quando o doente já está estabilizado e apto para participar activamente na sociedade) dos cidadãos comuns. É frequente a família isolar-se e romper laços de amizade por falta de compreensão e tolerância dos outros. É uma estratégia de proteção.
Os familiares se tiverem interessados podem ainda entrar em contacto com associações de apoio à doença mental e assim alargar o seu conhecimento sobre esta realidade, contactar com outras famílias com as mesmas preocupações e sentimentos e partilhar vivências.
Algumas sugestões para os familiares lidarem melhor com a situação:
- Aceitar a doença e as consequências que daí advêm
- Estabelecer expectativas realistas sobre o doente. O processo de tratamento têm uma duração variável consoante o paciente, a severidade da doença e as suas necessidades, sendo menos frustrante se a família não esperar demasiado e for elogiando o doente pelos seus pequenos feitos. Os familiares não se devem preocupar se a recuperação tardar, pois isso não significa que a doença permanecerá eternamente. A família deve adoptar uma atitude paciente e não ter expectativas demasiado elevadas. As comparações com outros casos são desnecessárias pois as pessoas são diferentes logo têm formas diferentes de responder a um tratamento.
- Aceitar toda a ajuda e apoio que encontrar (grupos de apoio, associações para os familiares de doentes mentais, etc)
- Ter atenção consigo próprio. Não deixar de ter momentos de prazer e ficar aprisionado pela doença. Se necessário consultar um psicólogo ou alguém com quem puder exprimir os seus sentimentos
- Fazer desporto, ir de férias, ter hobbies. No fundo ter momentos do dia-a-dia em que se possam abstrair da doença e disfrutar da despreocupação
- Ter uma visão optimista e esperança na recuperação
Por: Inês Sogalho da equipa do "De Génio e de Louco Todos Temos um Pouco"