"No fundo o que é um maluco? É qualquer coisa de diferente, um marginal, uma pessoa que não produz imediatamente. Há muitas formas de a sociedade lidar com estes marginais. Ou é engoli-los, tranformá-los em artistas, em profetas, em arautos de uma nova civilização, ou então vomitá-los em hospitais psiquiátricos"

António Lobo Antunes

14/02/2011

Impacto da Doença Mental na Familia

A doença mental é vista como algo negativo na nossa sociedade, o que torna ainda mais difícil lidar e conviver com esta realidade. A família tem um papel fulcral no sucesso do tratamento e na reintegração do doente. Contudo, um número muito elevado de famílias não está preparado para enfrentar este problema. É algo muito desgastante, tanto física como emocionalmente, e pode torná-los vulneráveis às opiniões e julgamentos dos outros.
O aparecimento de sinais de alerta (mudanças de comportamento, atitudes pouco próprias...) são muitas vezes ignorados pelos familiares que tentam convencer-se que tudo não passa de uma fase menos boa. A família inicialmente tende a encobrir a doença, talvez por não saber como proceder e por acreditar ser o melhor para o doente. É uma situação muito complicada para os familiares pois tudo é uma novidade que cai de surpresa às suas portas e à qual eles não sabem resolver.
É nesta altura, indispensável que os familiares procurem fontes de informação sobre o assunto, recorram a livros, revistas e Internet e para além disso que se informem junto de especialistas e médicos psiquiátricos. Assim passarão a dispor de meios e métodos para lidar com o doente e ajudá-lo no seu tratamento.
Cuidar de um doente mental não é uma tarefa leviana, pelo contrário é muito exigente e desconcertante. É necessário ter muita paciência e calma. Os familiares dedicam horas sem fim a cuidar do doente, com evidentes reflexos na sua vida pessoal.
O internamento é por vezes positivo para a família pois passa a dispor de mais tempo para outras actividades. Torna-se mesmo vital abandonar por horas as preocupações para disfrutar um pouco da vida e deste modo evitar que a sua própria saúde mental saia lesada.  Para tudo mais, o doente passa a receber um tratamento mais qualificado e abrangente com resultados mais eficazes. O doente é observado todo o dia por enfermeiras, médicos e psicólogos.
Nesta fase é importante que o doente se distancie o mais possível dos problemas exteriores e se concentre no seu tratamento. A família deve continuar a visitar frequentemente o doente e deve encorajá-lo e motivá-lo pois qualquer agente motivador poderá representar um passo para a sua recuperação.
A família deve ainda estabelecer um contacto frequente com os médicos que seguem o doente por forma a estar a par das notícias e dos avanços do tratamento e ainda para definir as melhores maneiras de agir com o doente, podendo ainda expor os seus problemas e angústias com toda esta situação. O diálogo médico-família é muito benéfico.
À medida que o tratamento progride o doente passa a dispor de uma maior autonomia e liberdade com o intuito de se familiarizar com o mundo exterior. A reintegração é um dos passos mais difíceis de concretizar, daí ser fulcral o apoio familiar.
O regresso a casa é um momento marcante para o doente pois é como um sinal verde para regressar à “normalidade” e ser, por fim, feliz.
Ao longo de todo este custoso processo é normal a destabilização dos familiares que têm ainda de lutar contra o estigma associado às doenças mentais. Estes são largamente afectados pela não aceitação desta realidade e pelas atitudes discriminatórias (mesmo quando o doente já está estabilizado e apto para participar activamente na sociedade) dos cidadãos comuns. É frequente a família isolar-se e romper laços de amizade por falta de compreensão e tolerância dos outros. É uma estratégia de proteção.
Os familiares se tiverem interessados podem ainda entrar em contacto com associações de apoio à doença mental e assim alargar o seu conhecimento sobre esta realidade, contactar com outras famílias com as mesmas preocupações e sentimentos e partilhar vivências.

Algumas sugestões para os familiares lidarem melhor com a situação:
  1. Aceitar a doença e as consequências que daí advêm
  2.   Estabelecer expectativas realistas sobre o doente. O processo de tratamento têm uma duração variável consoante o paciente, a severidade da doença e as suas necessidades, sendo menos frustrante se a família não esperar demasiado e for elogiando o doente pelos seus pequenos feitos. Os familiares não se devem preocupar se a recuperação tardar, pois isso não significa que a doença permanecerá eternamente. A família deve adoptar uma atitude paciente e não ter expectativas demasiado elevadas. As comparações com outros casos são desnecessárias pois as pessoas são diferentes logo têm formas diferentes de responder a um tratamento.
  3. Aceitar toda a ajuda e apoio que encontrar (grupos de apoio, associações para os familiares de doentes mentais, etc)
  4. Ter atenção consigo próprio. Não deixar de ter momentos de prazer e ficar aprisionado pela doença. Se necessário consultar um psicólogo ou alguém com quem puder exprimir os seus sentimentos
  5. Fazer desporto, ir de férias,  ter hobbies. No fundo ter momentos do dia-a-dia em que se possam abstrair da doença e disfrutar da despreocupação
  6. Ter uma visão optimista e esperança na recuperação


Por: Inês Sogalho da equipa do "De Génio e de Louco Todos Temos um Pouco"

12/02/2011

Entrevista na Rádio Aurora - A Outra Voz

Já temos em nossas mãos a entrevista da Rádio Aurora - A Outra Voz. 
A banda sonora é da banda DM e a música chama-se Is There. Foi uma escolha nossa!
Esperemos que gostem!