"No fundo o que é um maluco? É qualquer coisa de diferente, um marginal, uma pessoa que não produz imediatamente. Há muitas formas de a sociedade lidar com estes marginais. Ou é engoli-los, tranformá-los em artistas, em profetas, em arautos de uma nova civilização, ou então vomitá-los em hospitais psiquiátricos"

António Lobo Antunes

20/03/2011

Ter um mau emprego pode deprimir tanto como estar desempregado

http://www.publico.pt/Sociedade/ter-um-mau-emprego-pode-deprimir-tanto-como-estar-desempregado_1485369?all=1
17.03.2011 - 15:21 Por Mara Gonçalves


Ter um trabalho mal pago, demasiado stressante ou sem certezas de futuro pode ser tão mau, ou pior, que permanecer sem emprego. Esta é a conclusão de um novo estudo realizado na Austrália.
O emprego está associado a uma melhor saúde mental, ao contrário do desemprego, que pode provocar depressão ou ansiedade. Mas existe uma grande variedade de cargos e um mau emprego, em termos psicossociais, seria aquele com salários injustos, de grande exigência e complexidade e com pouco controlo ou segurança.

Os resultados do estudo publicada na revista “Occupational and Environmental Medicine” mostram que, em termos gerais, os desempregados têm pior saúde mental que aqueles com trabalho. No entanto, quando comparados os primeiros com os indivíduos com um mau emprego, o bem-estar mental destes era pior do que a dos desempregados. Ou seja, as vantagens de ter trabalho desapareciam, em termos de bem-estar mental, para os indivíduos na segunda situação.

Por outro lado, a pesquisa concluiu que a condição psicológica dos respondentes desempregados melhorava quando conseguiam uma colocação. Mas tornava-se ainda pior se a qualidade do novo trabalho fosse baixa.

Mudar de uma situação de desemprego para um mau trabalho pode assim ser pior para a saúde mental do indivíduo, ou mesmo agudizar problemas psicológicos já existentes. “Descobrimos que os trabalhos com piores condições psicossociais não são melhores, e podem mesmo ter piores efeitos para a saúde mental, que o desemprego”, explicam os autores do estudo.

Desta forma, tentar conseguir um emprego a qualquer custo pode não ser a melhor opção. “As políticas de emprego são baseadas na noção de que qualquer emprego é melhor que não ter nenhum”, relembram. Mas “a qualidade psicossocial do trabalho é um factor crucial que deve ser considerado”.
O sistema de apoio social tem um papel importante
É necessário ter em conta o papel da segurança social nos resultados apresentados pelo estudo, salvaguarda José Neves, investigador na área da Psicologia Social das Organizações. “A Austrália é conhecida por ser um país generoso no que respeita ao apoio social em situações de desemprego”, refere o investigador.

Ao existir um maior apoio ao desempregado, este pode considerar a sua situação menos depressiva ou causar-lhe menos ansiedade. Desta forma, o indivíduo sem trabalho teria uma melhor saúde mental que aquele num cargo demasiado stressante ou mal pago, como conclui o estudo.

Mas num país com uma segurança social menos favorável aos trabalhadores, as pessoas colocadas num mau emprego poderiam ter uma saúde mental ainda pior que nos outros países, mas mesmo assim ser superior à dos indivíduos sem trabalho.

“Os benefícios têm que ser sempre relativizados em relação às necessidades [das pessoas], nomeadamente as financeiras”, explica o professor do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE).

Em Portugal, “temos vindo a ter um controlo mais apertado do apoio social ao desemprego, em que as pessoas são empurradas para empregos que são pouco do agrado das mesmas. Mas acabam por aceitar, fruto da falta de apoios sociais”, explica o investigador.

Contudo José Neves alerta para um outro pormenor: um diminuto bem-estar mental também pode influenciar a forma como o trabalho é executado, e não apenas o contrário. E considera que uma reduzida qualidade do mesmo traz custos do ponto de vista económico e social. “Por isso, deste ponto de vista, esta questão poderia ser considerada nas políticas públicas de emprego”, remata.
Estudo avaliou sintomas positivos e negativos da saúde mental
O estudo realizado pela Universidade Nacional da Austrália, em Melbourne, foi feito a partir dos resultados de sete conjuntos de dados provenientes da pesquisa HILDA (the Household, Income and Labour Dynamics in Australia). A investigação recolhe anualmente informação laboral e económica de uma amostra composta por cerca de 7000 cidadãos do país.

Os autores mediram a saúde mental dos participantes mediante um teste chamado Mental Health Inventory (MHI), que considera diversos sintomas associados à depressão e à ansiedade, como o nervosismo, e aspectos positivos da saúde mental, como a tranquilidade ou a felicidade.No que respeita à qualidade do trabalho, avaliaram factores como o nível de exigência e complexidade, o controlo sobre o próprio trabalho, a segurança laboral e a percepção de um salário justo.

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