"No fundo o que é um maluco? É qualquer coisa de diferente, um marginal, uma pessoa que não produz imediatamente. Há muitas formas de a sociedade lidar com estes marginais. Ou é engoli-los, tranformá-los em artistas, em profetas, em arautos de uma nova civilização, ou então vomitá-los em hospitais psiquiátricos"

António Lobo Antunes

30/01/2011

II Simpósio de Reflexão sobre a Saúde Mental



Comunitariamente” é o título do simpósio sobre saúde mental comunitária agendado para o próximo dia 4 de Fevereiro de 2010 na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC) – Pólo A.
  
O simpósio (ver programa) é organizado por estudantes do II curso de pós-licenciatura de especialização em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria, em colaboração com o Centro de Saúde Norton de Matos, onde estão a realizar formação clínica.
Esta reunião científica tem por objectivos fomentar a reflexão sobre a saúde mental comunitária, tendo em vista o debate das mudanças perspectivadas para a Saúde Mental: mais cuidados integrados na comunidade e menos cuidados hospitalares, explica a comissão organizadora.

O simpósio, que surge no âmbito do “Projecto Desvendar” do Centro de Saúde Norton de Matos, pretende, igualmente, contribuir para a redução do estigma do utente de saúde mental.
É dirigido a profissionais e a estudantes das áreas da Saúde e das Ciências Sociais, a responsáveis de estruturas e de associações de apoio comunitário, bem como a pessoas com doença mental e seus familiares.
Embora seja uma actividade de natureza técnico-científica, o simpósio pretende ser um espaço aberto a todas as pessoas, sendo a sua participação gratuita.
O coordenador da Saúde Mental na região Centro, Dr. Horácio Firmino, o presidente da Associação para o Desenvolvimento e Formação Profissional de Miranda do Corvo, Dr. Jaime Ramos, o presidente da Sociedade  Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, professor doutor Carlos Sequeira, e a enfermeira chefe do Departamento de Psiquiatria de Saúde Mental do Hospital de S. Teotónio (Viseu), enfermeira Maria do Carmo, são alguns dos oradores que intervirão nos diferentes painéis.
Para a sessão de abertura do simpósio (9h30), são convidados de honra a professora Maria da Conceição Bento (presidente da ESEnfC), a enfermeira Glória Butt (representante da Ordem dos Enfermeiros/Secção Regional do Centro), o Dr. João Pedro Pimentel (Presidente da ARS – Centro, IP) e a Dra. Conceição Milheiro (directora do Centro de Saúde Norton de Matos).
Integram a comissão organizadora do simpósio a professora Maria Isabel Marques (orientadora pedagógica), o enfermeiro Fernando Carvalho – ambos coordenadores do Projecto Desvendar – e os enfermeiros Cosma Aguiar, Emanuel Baptista, Mafalda Gonçalves, Marta Gouveia, Marta Silva e Sérgio Gradil (alunos do curso de pós-licenciatura de especialização).

25/01/2011

Aprofundando a Doença Bipolar

http://www.adeb.pt/saude_mental/bipolar/o_que_e_bipolar.htm



1 - O que é a Doença Bipolar (Doença Maníaco-Depressiva)?
A Doença Bipolar, tradicionalmente designada Doença Maníaco-Depressiva, é uma doença psiquiátrica caracterizada por variações acentuadas do humor, com crises repetidas de depressão e «mania». Qualquer dos dois tipos de crise pode predominar numa mesma pessoa sendo a sua frequência bastante variável. As crises podem ser graves, moderadas ou leves.
As viragens do humor, num sentido ou noutro têm importante repercussão nas sensações, nas emoções, nas ideias e no comportamento da pessoa, com uma perda importante da saúde e da autonomia da personalidade.



2 - Quais são os sintomas da Doença Bipolar?
MANIA:
O principal sintoma de «MANIA» é um estado de humor elevado e expansivo, eufórico ou irritável. Nas fases iniciais da crise a pessoa pode sentir-se mais alegre, sociável, activa, faladora, auto-confiante, inteligente e criativa. Com a elevação progressiva do humor e a aceleração psíquica podem surgir alguns ou todos os seguintes sintomas:
  • Irritabilidade extrema; a pessoa torna-se exigente e zanga-se quando os outros não acatam os seus desejos e vontades;
  • Alterações emocionais súbitas e imprevisíveis, os pensamentos aceleram-se, a fala é muito rápida, com mudanças frequentes de assunto;
  • Reacção excessiva a estímulos, interpretação errada de acontecimentos, irritação com pequenas coisas, levando a mal comentários banais;
  • Aumento de interesse em diversas actividades, despesas excessivas, dívidas e ofertas exageradas;
  • Grandiosidade, aumento do amor próprio. A pessoa, pode sentir-se melhor e mais poderosa do que toda gente;
  • Energia excessiva, possibilitando uma hiperactividade ininterrupta;
  • Diminuição da necessidade de dormir;
  • Aumento da vontade sexual, comportamento desinibido com escolhas inadequadas;
  • Incapacidade em reconhecer a doença, tendência a recusar o tratamento e a culpar os outros pelo que corre mal;
  • Perda da noção da realidade, ideias estranhas (delírios) e «vozes»;
  • Abuso de álcool e de substâncias.

DEPRESSÃO:
O principal sintoma é um estado de humor de tristeza e desespero.
Em função da gravidade da depressão, podem sentir-se alguns ou muitos dos seguintes sintomas:
  • Preocupação com fracassos ou incapacidades e perda da auto-estima. Pode ficar-se obcecado com pensamentos negativos, sem conseguir afastá-los;
  • Sentimentos de inutilidade, desespero e culpa excessiva;
  • Pensamento lento, esquecimentos, dificuldade de concentração e em tomar decisões;
  • Perda de interesse pelo trabalho, pelos hobbies e pelas pessoas, incluindo os familiares e amigos;
  • Preocupação excessiva com queixas físicas, como por exemplo a obstipação;
  • Agitação, inquietação, sem conseguir estar sossegado ou perda de energia, cansaço, inacção total;
  • Alterações do apetite e do peso;
  • Alterações do sono: insónia ou sono a mais;
  • Diminuição do desejo sexual;
  • Choro fácil ou vontade de chorar sem ser capaz;
  • Ideias de morte e de suicídio; tentativas de suicídio;
  • Uso excessivo de bebidas alcoólicas ou de outras substancias;
  • Perda da noção de realidade, ideias estranhas (delírios) e «vozes» com conteúdo negativo e depreciativo;
Por vezes o/a doente tem, durante a mesma crise, sintomas de depressão e de «mania», o que corresponde às crises MISTAS.


3 - Quanto tempo dura uma crise?
Varia muito. A pessoa pode estar em fase maníaca ou depressiva durante alguns dias, ou durante vários meses. Os períodos de estabilidade entre as crises podem durar dias, meses ou anos. O tratamento adequado encurta a duração das crises e pode preveni-las.


4 - É possível prever as crises?
Para algumas pessoas, sim. Umas terão uma ou duas crises durante toda a vida, outras pessoas recaem repetidas vezes em certas alturas do ano (caso não estejam tratadas!). Há doentes que têm mais do que 4 crises por ano (CICLOS RÁPIDOS).


5 - Em que idade surge a doença?
Pode começar em qualquer altura, durante ou depois da adolescência.


6 - Quantas pessoas sofrem da Doença Bipolar (Maníaco-Depressiva)?
Aproximadamente 1% da população sofrem da doença, numa percentagem idêntica em ambos os sexos.


7 - Qual a causa da doença?
Há vários factores que predispõem para a doença, mas o seu conhecimento ainda é incompleto.
Os factores genéticos e biológicos (na química do cérebro) têm um papel essencial entre as causas da doença, mas o tipo de personalidade e os stresses que a pessoa enfrenta desempenham também um papel relevante no desencadeamento das crises.



8 - Depois de uma crise de depressão ou mania volta-se ao normal?
Em geral, sim. No entanto, devido às consequências dramáticas que as crises podem ter, no plano social, familiar e individual, a vida da pessoa complica-se e perturba-se muito, restringindo de forma marcante a sua capacidade de adaptação e autonomia.
O tratamento adequado para a prevenção das crises (se são graves e/ou frequentes) é essencial para evitar os muitos riscos inerentes à doença.



9 - Há tratamento para as crises e para a Doença Bipolar?
Não há nenhum tratamento que cure a doença por completo. No entanto, há grandes possibilidades de controlar a doença, através de medicamentos estabilizadores do humor, cuja acção terapêutica diminui muito a probabilidade de recaídas, tanto das crises de depressão como de «mania». Os estabilizadores do humor são a Olanzapina, a Lamotrigina, o Valproato, Carbonato de Lítio, Quetiapina, Carbamazepina, Risperidona e Ziprasidona.
As crises depressivas tratam-se com medicamentos 
ANTIDEPRESSIVOS ou, em casos resistentes, a elecroconvulsivoterapia. As crises de mania tratam-se com os estabilizadores do humor atrás referidos e com os medicamentos neurolépticos ANTIPSICÓTICOS.
Naturalmente, o apoio psicológico individual e familiar é um complemento indispensável para o tratamento.
As crises graves obrigam a tratamento hospitalar em muitos casos.



10 - Porque é tão importante a consciencialização dos doentes, does familiares e de outras pessoas em relação à Doença Bipolar?
A noção de doença mental na opinião pública é, em geral, muito confusa e pouco correcta. Verifica-se uma tendência para considerar negativamente as pessoas que sofrem de doenças psiquiátricas e é frequente a ideia de que as doenças mentais são qualitativamente diferentes das outras doenças. É muito comum imaginar que há uma «doença mental» única («a doença mental»), atribuindo às pessoas que tenham sofrido crises, um prognóstico negativo de incurabilidade, aferido erradamente pelos casos de doentes mentais mais graves e crónicos. Por vezes o diagnóstico médico das diferentes doenças psiquiátricas não se faz na altura própria, por variadas razões, e isso acontece, com alguma frequência, na Doença Bipolar.
O conhecimento, mesmo que simplificado, das características da
 Doença Bipolar facilita a seu reconhecimento aos próprios (que a sofrem) e aos outros, possibilitando uma maior ajuda a muitas pessoas que carecem de um tratamento médico adequado e de uma solidária compreensão humana.

18/01/2011

Teatro da Malaposta leva à cena peça com doentes do Júlio de Matos - Sociedade - PUBLICO.PT

Dias 13 e 14 de Janeiro

12.01.2011 - 21:24 Por Daniela Adónis Carneiro
Que fronteiras separam a sanidade da loucura, a normalidade da anormalidade? É esta a pergunta que levanta a peça Limiar, apresentada pelo Grupo de Teatro Terapêutico do Hospital Júlio de Matos, amanhã e depois, no Centro Cultural Malaposta, em Odivelas.
Escrita pelo actor e encenador João Silva a partir de conversas e discussões de grupo com vários doentes do hospital, a peça foi apresentada pela primeira vez no Teatro Nacional D. Maria II, em Novembro de 2009. A boa recepção do público levou à realização de mais quatro espectáculos no Auditório do Instituto Português da Juventude. Posteriormente, face ao interesse suscitado pelo espectáculo e à indisponibilidade de salas para reposição, foi criado o projecto “Leituras e Diálogos com o texto Limiar”, com a leitura e discussão de excertos da peça em várias faculdades de psicologia do país.
João Silva dirige o Grupo de Teatro Terapêutico do Hospital Júlio de Matos desde a sua criação, em 1968. Nesse ano, vários pacientes, com o apoio de médicos e de amigos ligados à área do teatro, decidiram desenvolver um projecto que lhes permitisse levar à cena uma peça.
Actualmente, o grupo é constituído por 18 actores. Todos eles possuem um historial de doença mental, embora neste momento a maioria sejam pacientes externos. João Silva recusa a inclusão do grupo na área de reabilitação do hospital: “É, acima de tudo, um grupo de teatro, que poderia existir em qualquer outro sítio.” 
Para além da direcção do encenador, os pacientes contam com o acompanhamento de duas técnicas de saúde mental, Isabel Calheiros e Liliane Viegas. 
O grupo não dispõe de quaisquer apoios oficiais, recebendo apenas um subsídio do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa. “Há muito pouca gente e recursos”, diz João Silva.

“Fragmentos da vida”
Estamos a 12 de Janeiro, véspera da apresentação da peça Limiar na Malaposta. Segundo João Silva, o texto surgiu a partir de “fragmentos da vida ligados por um limiar daquilo que nós suportamos ou nos é permitido”.
No ensaio geral, o encenador aproveita para dar indicações e conselhos de última hora. 
Liliane Viegas, psicóloga e antiga dançarina, acompanha atentamente o desempenho dos actores. Trabalha no hospital há dois anos e, uma vez por semana, ajuda o grupo a desenvolver a sua comunicação não verbal através da DançaTerapia. “Estamos num ambiente criativo mas de contenção”, sublinha. Apesar de ocorrerem alguns esquecimentos nos ensaios, Liliane refere que, na “hora H” “os pacientes encarnam totalmente as personagens” e tudo corre bem.
“A nossa filosofia de existência é não tratar as pessoas como doentes mentais”, afirma a terapeuta ocupacional Isabel Calheiros, que colabora com o grupo desde 1992. “Existe uma tendência para manter uma distância face a estas pessoas, mas nós procuramos estar próximos”, acrescenta. 
“Atenção à linha que nos separa da outra margem. É ténue o limiar entre o que é ou não loucura”, repetem várias vezes os actores ao longo da peça, reforçando a ideia de que não existem “duas normalidades iguais” e que, por isso, é importante construir novas fronteiras e pensar para além do que é considerado socialmente correcto. 
Chamando a atenção para a bipolaridade da sociedade actual, onde “há cada vez mais ricos em abundância e pobres em extremo”, a peça Limiar é um murro no estômago. “E o louco, sou eu?!”, parece perguntar-nos.

16/01/2011

OMS divulga documento para o tratamento precoce - Jornal de Angola
11 de Janeiro, 2011


Um documento que recomenda mais simplicidade no diagnóstico e humanização no tratamento das doenças mentais e dos transtornos causados pela dependência química e do álcool, foi produzido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
De acordo com o documento, divulgado em finais do ano passado, a ideia é investir mais na identificação precoce da doença e partir para o tratamento adequado em cada caso. 
Em seis países, entre os quais o Panamá, na América Latina, especialistas da OMS vão fazer parcerias com os profissionais locais. 

Uma das preocupações da OMS é que há 95 milhões de pessoas que sofrem de depressão no mundo, sem o tratamento adequado, e mais 25 milhões também não medicadas que têm problemas causados pela epilepsia. 
Pelos dados da organização, uma em cada quatro pessoas no mundo tem propensão para desenvolver doenças mentais ao longo da vida. 

A OMS concluiu ainda que, na maioria dos países, menos de dois por cento dos recursos destinados à área de saúde são gastos no tratamento de doenças mentais e neurológicas. Para agravar a situação, a maioria das pessoas com esses transtornos não recebe atenção adequada. 

Na tentativa de reverter a situação actual, a OMS vai prestar apoio ao desenvolvimento de programas de saúde mental em países como a Etiópia, Jordânia, Nigéria, Panamá, Serra Leoa e Ilhas Salomão. Médicos e enfermeiros vão fazer visitas aos doentes que sofrem de depressão e às crianças com epilepsia. O objectivo é orientar as famílias nos tratamentos adequados. 

O director assistente da área de Doenças Não Transmissíveis e Saúde Mental da OMS, Ala Alwan, afirmou que, para melhorar o tratamento da saúde mental e neurológica, não são necessárias “tecnologias sofisticadas e caras”, mas o aumento da capacidade de diagnóstico. 

A directora geral da OMS, Margaret Chan, disse que o guia, com aproximadamente 100 páginas, vai servir de orientação para os especialistas em saúde mental, médicos e enfermeiros. As directrizes basearam-se em evidências observadas em vários países.

14/01/2011

Esta Espécie de Loucura




Esta espécie de loucura
Que é pouco chamar talento
E que brilha em mim, na escura
Confusão do pensamento,

Não me traz felicidade;
Porque, enfim, sempre haverá
Sol ou sombra na cidade.
Mas em mim não sei o que há
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
Morte de Carlos Castro deve servir para mostrar aos jovens os "alçapões" da fama - JN


Morte de Carlos Castro deve servir para mostrar aos jovens os "alçapões" da fama

13.01.2010



O psiquiatra Afonso Albuquerque disse hoje esperar que a morte do cronista Carlos Castro sirva para alguns jovens, "dispostos a tudo para subirem nos meios de grande visibilidade social", perceberem que "esta sub-cultura tem alçapões".
"Espero que [o caso] alerte alguns jovens que este tipo de carreira, este meio sócio cultural, tem alçapões", disse à Lusa o antigo director do Serviço de Psicoterapia Comportamental do Hospital Júlio de Matos.
Para Afonso Albuquerque, este caso mostra "o que pode acontecer numa sociedade que crescentemente tem vindo, em alguns dos seus meios, a valorizar muito a beleza, o aspecto físico".
O especialista refere-se, nomeadamente, aos concursos televisivos que "são dirigidos essencialmente a jovens inexperientes que se sentem seduzidos pelos 15 minutos de glória".
"Se por um lado estes concursos têm coisas positivas para quem quer uma carreira na moda, também têm a face negativa de imbuir os jovens desta mentalidade e torná-los dependentes, escravizados mesmo, por este tipo de cultura", disse.
"Beleza, dinheiro, fama, tudo isto parece muito fácil. Basta ter bons genes, ser bonito, fazer ginástica. E não faltam jovens ansiosos por entrarem neste tipo de carreira", acrescentou o especialista.
Afonso Albuquerque acredita que esta é uma "indústria poderosíssima que não vai recuar perante um crime destes". O resultado, disse, são "situações de grande exploração psicológica e emocional dos jovens, que se passam".
Rui Abrunhosa Gonçalves, especialista em psicologia da justiça, defende que em "situações de grandes saltos da condição em que a pessoa vivia para uma notoriedade até então inexistente", esta deve ser acompanhada por alguém que sirva de "elemento de segurança".
Portugal já assistiu a casos de estrelas efémeras -- feitas em programas televisivos, como o famoso Big Brother, transmitido pela TVI -- que se "passaram".
Um desses participantes "já se tentou suicidar e destrambelhou completamente. A notoriedade afectou-o extraordinariamente", disse.
O mestre em psicologia do comportamento desviante defende um crescimento "progressivo". "Quando saltamos de uma linha de acção, de um padrão de funcionamento, para um outro de grande exposição social, é evidente que, se não formos acompanhados, esta exposição pode ser dramática".
Segundo Rui Abrunhosa Gonçalves, é longo o caminho para um lugar ao sol e exige grande persistência, trabalho e vontade. "O problema pode chegar se não se souber gerir a fama, quando esta cai nos braços", disse, referindo-se ao perigo de as "vulnerabilidades psicológicas poderem vir ao de cima".
O psicólogo ressalva, contudo, que o crime de que foi vítima o cronista Carlos Castro é "um caso extremo".
"Este é um crime de ódio, com violência extrema, uma procura de eliminar fisicamente alguém e de o deixar eliminado de uma maneira que não deixe dúvidas sobre o que se pensava sobre essa pessoa", concluiu.

06/01/2011

Amanhã é o Grande Dia. Não percam!

Amanhã é o grande dia. A nossa equipe vai participar no programa de rádio da Rádio Aurora - A Outra Voz. Estamos todas muito entusiasmadas e felizes por vermos o nosso trabalho ser recompensado. 
Para nós é uma vitória e estamos muito gratas por todos as criticas que nos têm vindo a fazer. 




Este projecto vai de vento em poupa e cada vez mais acreditamos que esta causa é digna de ser defendida e estamos prontas para o fazer da melhor forma possível. Se formos capazes de pôr alguém a repensar as suas atitudes para com os doentes mentais e daí retirar a conclusão que estas têm de ser radicalmente alteradas, então podemos dizer que o nosso objectivo foi conseguido. 
Não somos tão ingénuas ao ponto de pensar que a nossa vontade irá fazer com que todos os portugueses abram os seus horizontes em relação à doença mental. Temos plena consciência que isso é processo gradual e que leva o seu tempo. Apenas queremos ser ouvidas e se conseguirmos melhorar a vida de pessoas que sofrem de uma doença mental, tanto melhor, seria mesmo uma grande felicidade.


Em breve daremos notícias,


Cumprimentos a todos os leitores,
A equipa do blog "De Génio e de Louco todos Temos um Pouco"

A Igualdade, esse Alimento da Alma




por Nicholas Kristof, Publicado em 05 de Janeiro de 2011   

Um estudo recente de dois epidemiologistas defende - e reúne uma enorme massa de dados em favor da tese - que a desigualdade prejudica e a igualdade beneficia a sociedade no seu todo  

John Steinbeck observou que "uma alma triste pode matar-nos mais depressa, muito mais depressa, que um micróbio". Esta intuição, já confirmada pela epidemiologia, deve estar presente na nossa mente numa altura em que a desigualdade é tão evidente que, em conjunto, 1% dos americanos, os mais ricos, dispõem de um património superior ao dos 90% da parte inferior da escala.

Há cada vez mais indicações de que o peso desta desigualdade chocante não é só económico, que ela se paga também com uma espécie de melancolia da alma. O seu resultado são taxas elevadas de crimes violentos, consumo de narcóticos, gravidez precoce entre adolescentes e níveis elevados de ataques de coração.

É esta a argumentação de um livro de dois conhecidos epidemiologistas britânicos, Richard Wilkinson e Kate Pickett. Ambos defendem que as desigualdades desmedidas dilaceram a psique humana, criam ansiedade, desconfiança e uma série de enfermidades mentais e físicas - apoiados numa massa enorme de dados.

"Se não conseguirmos evitar as grandes desigualdades, precisaremos de mais prisões e polícias", asseguram. "Teremos de enfrentar taxas mais altas de doenças mentais, uso de drogas e uma série de outros problemas." O assunto é explorado no livro "The Spirit Level: Why Greater Equality Makes Societies Stronger".

O núcleo do argumento é que os seres humanos são animais sociais e nas sociedades altamente desiguais os que se encontram nas camadas inferiores da hierarquia sofrem de uma série de patologias. Por exemplo, um estudo de longa duração realizado com funcionários públicos concluiu que contínuos, porteiros e outros profissionais de baixo estatuto morriam mais que os outros em consequência de enfarte, cancro ou suicídio e de geralmente tinham mais problemas de saúde. Há indicações de que isto também acontece entre outros primatas. Por exemplo, foram feitas experiências com macacos, que também são animais altamente sociáveis, metidos em gaiolas e ensinados a carregar numa alavanca para obter cocaína. Os que estão na base da hierarquia recorrem muito mais à cocaína que os do topo.

Outras experiências revelaram problemas físicos associados ao baixo estatuto, incluindo aterosclerose e aumento da gordura abdominal. Com os macacos acontece o mesmo que com o homem. Os investigadores concluíram ainda que os desempregados ou pessoas que sofreram revezes económicos tendem a ganhar peso. Um estudo desenvolvido ao longo de 12 anos nos EUA encontrou uma correlação entre a diminuição do rendimento e o aumento médio de peso. Em todo o mundo há ainda uma forte correlação entre desigualdades e abuso de drogas. Paradoxalmente, em países, como a Holanda, onde as leis contra o uso de drogas são mais flexíveis, o consumo doméstico é relativamente baixo, talvez por serem mais igualitários.

Wilkinson e Pickett espremem bem os números e mostram que a relação se repete no que diz respeito a uma série de outros problemas sociais. Entre os países ricos, é onde as desigualdades são maiores que parece existir mais problemas de doença mental, mortalidade infantil, obesidade, abandono escolar, gravidezes de adolescentes, homicídios e por aí fora. O mesmo se revela quando se compararam os 50 estados americanos. Os estados onde as desigualdades são maiores, como o Mississípi e o Louisiana, têm estatísticas preocupantes Nos estados onde as desigualdades são menos radicais, como o New Hampshire e o Minnesota, os indicadores são mais positivos.

Mas afinal por que razão é a desigualdade tão prejudicial? "The Spirit Level" sugere que a desigualdade boicota a confiança social e a vida comunitária, corroendo as sociedades no seu conjunto. Também sugere que os seres humanos, enquanto seres sociais, ficam sujeitos a uma tensão invulgar quando se encontram no fundo de qualquer hierarquia. Esta tensão provoca alterações biológicas, por exemplo a libertação de hidrocortisona, uma hormona, e a acumulação de gordura abdominal (talvez uma adaptação evolucionária à aproximação de períodos de carência alimentar). O resultado são problemas físicos, como doenças coronárias, e sociais, como crimes violentos, desconfiança generalizada, comportamentos autodestrutivos e pobreza persistente. Outro dos resultados é o aparecimento de sistemas alternativos, em que as pessoas procuram conquistar o respeito dos outros e desenvolver algum amor-próprio, como os gangues.

É um facto que as pessoas não são todas semelhantes do ponto de vista das capacidades. Haverá sempre algumas mais prósperas e alguém tem de ficar no fundo da hierarquia.

No entanto, a desigualdade não tem de ser radical, opressiva e polarizada como é hoje em dia nos EUA. A Alemanha e o Japão conseguiram desenvolver economias modernas e eficientes com muito menos desigualdade e muito menos problemas sociais. Do mesmo modo, a distância entre os mais ricos e os mais pobres foi reduzida durante a administração Clinton, de acordo com os dados citado em "The Spirit Level", embora o período tenha sido de vigor económico.

"A desigualdade divide, e mesmo as pequenas diferenças parecem ter um peso enorme", observam Wilkinson e Pickett, que sugerem que não são apenas os pobres que beneficiam da coesão social que resulta da igualdade, mas toda a sociedade.

Assim, quando discutimos a política norte-americana para 2011 dos impostos sobre a compra de propriedades à protecção no desemprego e à educação pré-escolar, devemos ter presente o objectivo de reduzir as desigualdades assombrosas da América de hoje. Estas desigualdades parecem profundamente doentias, para nós e para a alma da nação.

Exclusivo i/The New York Times