"No fundo o que é um maluco? É qualquer coisa de diferente, um marginal, uma pessoa que não produz imediatamente. Há muitas formas de a sociedade lidar com estes marginais. Ou é engoli-los, tranformá-los em artistas, em profetas, em arautos de uma nova civilização, ou então vomitá-los em hospitais psiquiátricos"

António Lobo Antunes

07/12/2010

Como vai a Saúde? Um bocadinho mal, obrigada!

Revista Bipolar:


"Li algumas notícias sobre a saúde e dei comigo a reflectir sobre a respectiva definição.
De acordo com o Dicionário de Língua Portuguesa, saúde significa "do que é são; ausência de doença; (…)".
Por reflexão simplista e lógica, quando as mentes oficialmente superiores delineiam o Programa Nacional de Saúde seria, supostamente,no sentido de proporcionar aos utentes, sobretudo aos necessitados (que na actual vigência crescem, em número, a olhos vistos) a saúde ou o aproximar dela, o mais possível.

Mas será mesmo isso que se verifica? As taxas moderadoras aumentam,as comparticipações nos medicamentos diminuem, os descontos obrigatórios aumentam, a saída de médicos de família dos Centro de Saúde, levam a que milhares de utentes fiquem sujeitos às listas de vagas (que por vezes nem existem), fecham-se Hospitais que bem ou mal serviam populações em áreas de dezenas de quilómetros, com a justificação de que não são "rentáveis", como se se tratasse de empresas privadas.

Perdoem a minha ignorância! É suposto os cuidados públicos de saúde serem rentáveis? Eu acreditava que eles garantiam uma alínea dos direitos humanos, vejam lá a minha ingenuidade!

Mas até aqui, falei em saúde em geral.
Se tentarmos falar seriamente de como vai a saúde mental, provavelmente ficaremos "loucos".
Começam a formatar-se algumas medidas que à vista desarmada até se afiguram positivas, sobretudo para quem conhece pouco do assunto, o que me preocupa é como essas medidas vão ser agilizadas, na prática.
Vejamos: 3% do Orçamento de Saúde/2009 foi atribuído à área da Saúde Mental. Quando se estima que, em Portugal, haja cerca de 300 mil pessoas a sofrer de duas das doenças mentais mais comuns (esquizofrenia e distúrbio bipolar), já sem contar com os números da depressão, sobre os quais nem sequer existem estatísticas actuais fiáveis.
Quando o próprio Coordenador do Plano Nacional de Saúde Mental prevê que 2 milhões de portugueses venham este ano a sofrer de perturbações psiquiátricas, devido à famigerada crise económica.
Quando, segundo estudo elaborado pela Federação Mundial para a Saúde Mental, no ano transacto, cada doente gasta só em tratamentos, em média, 263,24 Euros por mês.
Quem ouve falar em 5 milhões de euros para a área da saúde mental pensa: - Fantástico!
Porque, creio eu, a maioria dos portugueses não sabe bem para que dão 5 milhões de euros, especialmente na saúde.
Além de mais, no mesmo pacote propõe-se encerrar os últimos redutos da saúde mental do país - os grandes hospitais psiquiátricos que, embora com muitos pontos negros, já valeram a muitos dos que agora prestam contribuição válida à sociedade.
As doenças mentais são, frequentemente, encaradas como um "incómodo" para a sociedade em geral, para a qual, valores maiores se levantam, especialmente, agora. Os problemas psicológicos são tantas vezes considerados discutíveis ou mesmo caprichos do paciente, inclusive, por médicos, o que, na minha humilde opinião, constitui erro grave.

Num momento em que tanto se fala da crise e das suas consequências e em que até os especialistas salientam as psicológicas, não estaremos a descurar algo importante para toda uma sociedade futura?
Se não se tomarem as devidas medidas, que possibilidades terá esta geração que, já avançada na idade, perde a esperança em melhores dias ou as novas gerações, que vão certamente encontrar dificuldades para as quais não foram formatadas?
Todo este panorama, assim analisado, parece muito negro, mas a verdade é que num sistema democrático, todos nós temos acesso a mecanismos para expor a nossa opinião, é a contribuição de muitos que faz a diferença.

O laxismo dos portugueses perante as decisões superiores, neste país, tem colocado a nossa realidade num patamar perigoso.
Está, penso eu, na altura de, com racionalidade, devidamente informados e pelos veículos adequados, intervirmos na nossa sociedade, de forma construtiva.
O respeito pelas instituições implica o reverso, que é o respeito pelos cidadãos que as mantêm.
Até breve, amigos e tentemos acordar a cidadania em nós, pela saúde de Portugal!"

Ana Dinis
Sócia n.º 190

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